sexta-feira, 3 de outubro de 2008

a saga territorial da cueca e da meia

A cueca e a meia viviam, cada uma em seu território, há muitos anos. Quase nunca se encontravam quando estavam em seus habitats naturais. As ocasiões de encontro eram raras e ocorriam apenas em períodos de transição, quando cada uma estava dentro de um mesmo espaço separadas por barreiras de papelão retangulares.

Aí um dia a cueca e as meias tiveram que migrar de território. A jornada não foi fácil, foram horas a fio presas dentro de um espaço transparente, quente, seco, sem ar e com uma iluminação laranja desbotada por conta do teto, translúcido. Quando finalmente elas foram libertadas passaram a ocupar novamente um mesmo espaço, mas dessa vez, sem divisões pacificadoras.

Com o passar dos dias as meias e as cuecas começaram se estranhar. Uma ocupava o território da outra e vice-versa. Num dado momento, já não era mais possível delimitar o que era de uma e o que era da outra. Pares de meias, formados há anos se separaram. Famílias inteiras de meias baixinhas foram divididas, com chances remotíssimas e haver um novo encontro. Entre as cuecas o estrago não foi menor. Algumas morreram sufocadas por bolas de meias rolantes que deslizaram como numa grande avalanche branca. As cuecas já não aguentavam mais aqueles resíduos de talco que as deixavam esbranquiçadas e perfumadas.

Mas sempre havia um esperança. Todos os dias, nos momentos em que a luz inundava o território sempre um par de meias e uma cueca (essas últmas sempre em desvantagem numérica) era salvo. O trio passeava pela cidade, cada um em seu veículo, sempre em movimento.

Mas logo no cair da noite o trio em liberdade se arrependia. Repentinamente eles voavam. As meias, que ficaram juntas durante todo o dia se viam viceralmente separadas. A cueca, até então aquecida acabava por ficar numa superfície branca, suja e gelada. O pior mesmo é quando elas voavam e acabavam impedidas de se juntarem às outras espécies que habitavam o grande cesto. Porque lá, o trio sabia, era o lugar que lhes pertencia. Duro mesmo é que sempre que estavam nessa situação uma mão feminina raivosa as pegava com força, esbravejava palavras ininteligiveis "PUTAQUELPARIUMARIDO! NÃOÉPOSSÍVELQUEVOCÊNÃOCONSIGACOLOCARAMEIAEACUECADENTRODAPORRADOCESTO"e e aí sim, o probre trio era jogado, com força e muita raiva dentro do grande cesto branco, diariamente. Nessas horas, o pouco tempo de liberdade perdia o sentido, mas as meias e cuecas se uniam novamente numa inabalável amizade.

2 comentários:

Francisco Castro disse...

Olá, eu gostei muito do seu blog. Ele é muito bom.

Parabéns!

Um abraço

Socoh! disse...

É simples minha cara!!! em vez de morar num apartamento, mude-se para uma mega cesto assim elas sempre estarão no lugar!!!